segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CIDADANIA = PARTICIPAÇÃO



"VOCÊ SABE O NOME DE UM MINISTRO?... a Ipsos lançou esta questão a pessoas de 70 cidades brasileiras, envolvendo nove regiões metropolitanas. Mesmo nas classes A/B, mais escolarizadas, metade (48%) não sabia - a média geral é de 43%, sendo que entre os mais pobres o percentual cai para 20. Dados semelhantes foram encontrados quando se perguntou o nome de um deputado e um senador.
A tradução disso é óbvia - e mais uma vez mostra como estamos longe de uma democracia mais participativa. Se os indivíduos, mesmo os mais escolarizados, desconhecem o nome do ministro, certamente acompanham ainda menos sua atuação. Se o cidadão não sabe citar o nome de um deputado ou senador, é indicativo de que esqueceu em quem votou." (Retirado de noticias.bol.uol.com.br, 18/01/2010).

Se indagamos por aí sobre a posição política de alguém, a maioria enche a boca para dizer: "Sou apolítico!". Nos perfis de páginas de relacionamento e sites na Internet, nesse quesito a resposta da maioria é a mesma! Não é preciso muita inteligência para perceber que aí está uma das principais raízes da incompetência dos políticos e da corrupção. É o "apolítico" quem promove e sustenta o desmando e a roubalheira, muitas vezes ingenuamente pensando que, com essa posição, está "protestando".
É verdade que somos induzidos a não participar, a ver a política institucional como "lama", a "lavarmos as mãos", a pensar que todos os políticos são iguais pelos próprios políticos e Partidos e pela mídia mais poderosa. Dessa forma, não nos preocupamos em ser criteriosos nas escolhas e muito menos em acompanhar, fiscalizar, cobrar. E em não reeleger um político que decepcionou.
Neste ano de eleições é fundamental que cada um de nós promova esse debate com as pessoas que conhecemos, nos espaços em que convivemos e participamos: família, vizinhos, escola, clube, espaço religioso, etc. (afinal, o voto de todos eles afeta nossa vida pessoal por, pelo menos, quatro anos!).
O conhecido texto abaixo, do dramaturgo, poeta e encenador Bertold Brecht (foto) (1898-1956), é uma boa reflexão sobre essa alienação política:




"O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores.

Nada é impossível de mudar:

desconfiem do mais trivial, na aparência singelo, e examinem, sobretudo, o que parece normal.

Suplicamos expressamente:

não aceitem o que é habitual como coisa natural, pois em tempos de desordem sangrenta, de confusão generalizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."

* A imagem do alto é de autoria de Charlie Cravero. Para ver outras imagens de Charlie acesse:

sábado, 16 de janeiro de 2010

JAIME


Os sábios resplandecerão, como o resplendor do firmamento;
e os que ensinam a muitos a justiça,
brilharão como as estrelas, por toda a eternidade
.
(Dn 12,3)


1970. Mudanças de valores nas sociedades ocidentais. Afirmação da juventude. "Movimento" hypie. Renovação na Igreja Católica. Guerras e engajamentos pela Paz.
América Latina: lutas de libertação e pela construção do socialismo. Sanguinárias ditaduras militares, apoiadas pelos Estados Unidos. Comprometimento político mais progressista da Igreja Católica - a Teologia da Libertação - as Comunidades Eclesiais de Base.
Brasil: a fase mais feroz da ditadura civil-militar. A Igreja Católica e as Igrejas Reformadas históricas e outras como a Metodista vão se tornando a grande força de enfretamento à ditadura e passando a caminhar com o povo, preferencialmente em suas camadas mais pobres. As revelações dos Festivais da Canção: Chico Buarque, Geraldo Vandré, Milton Nascimento, Elis Regina...

No município de São Gonçalo, no bairro da Venda da Cruz, no alto do Morro do Sabão, havia a pequena capela de Nossa Senhora de Fátima (99 degraus altos, da baixada até a igrejinha). Para lá o Bispo mandou um padre que considerava incômodo, pra se ver livre. Mas logo o povo do morro começou a participar, o povo da baixada começou a subir e se organizou a "Comunidade Missionária Nossa Senhora de Fátima da Venda da Cruz", conhecida por não vender sacramentos (nenhum sacramento era cobrado), por sua pastoral com jovens e crianças e pelas velhas boas de trabalho. E pela liturgia participativa, mais engajada na vida. E, sobretudo, pela pobreza: só entrava a grana necessária para assegurar os trabalhos. Nunca sobrou... Nem faltou!
Havia um grupo de jovens, o Juvenil. E também alguns jovens engajados que não participavam do Juvenil. Os jovens independentes coordenavam a vitrine da Comunidade: a Missa dos Jovens, onde se faziam as experiências litúrgicas mais avançadas e politizadas. Como não tinham nenhuma estrutura formal para engessá-los, eram mais ágeis, autônomos na formação e com trânsito mais livre na juventude que não participava da Igreja. Assim, foram crescendo e ficando conhecidos como "a Turma".
Num domingo 10 de dezembro, aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos - na Missa dos Jovens que desenvolvia esse tema - Jaime apareceu. A partir daí foi chegando, devagar, se aproximou da Darli, da Leila e, via elas, se enturmou.
Era de Sergipe, único homem entre muitas irmãs, foi o último a vir pro Rio de Janeiro pra estudar e conseguir trabalho melhor. Em Sergipe ficaram apenas os pais e a irmã mais nova. Estudava na Universidade Rural. Tinha o olhar e o sorriso (permanente no seu rosto) marcantemente sinceros, verdadeiros, francos. Uma grande lealdade e solidariedade. Também marcante o seu senso de humor. Bom observador, tinha um apelido bem humorado para cada um, sempre a partir de uma característica da pessoa. Era tímido, mas logo se tornou uma das principais lideranças da turma. Para "conferir" o nosso discurso, leu a Bíblia inteira em poucos meses. Era de formação marxista. O Evangelho de Jesus de Nazaré tornou-se norte de sua vida e inspirador do seu compromisso com os pobres e todos os marginalizados, numa perspectiva libertadora e não-violenta. Estava sempre indicando ou emprestando um livro a alguém, recomendando uma peça de teatro ou um filme. Era especialista em falar a linguagem do outro.
Após dois anos na Venda Cruz, foi aprovado num concurso da Caixa Econômica e mandado para Porto Alegre. Lá continou o engajamento na Igreja entre os jovens. Dois anos depois, voltou.
Ficou mais dois anos e se transferiu para Brasília. Ali começou a atuar junto às prostitutas.
Tendo como companheira uma das meninas da zona que conheceu em Brasília, foi para Unaí, sudoeste de Minas. Ali nasceu seu primeiro filho. Mais tarde, separado, retornou a Sergipe, com o filho, onde constituiu nova família e teve mais três filhos.
Jaime escreveu e publicou poesias, nas quais os excluídos são personagens recorrentes. Tornou-se uma grande liderança sindical entre os bancários no Nordeste, manteve a militância na Igreja.
A partir de sua volta para Sergipe, perdemos o contato. Mas sempre permaneceu o meu melhor Amigo.
Em março do ano passado encontrei com uma de suas irmãs e recebi a noticia da morte (prefiro dizer "Páscoa") de Jaime, por complicações cardíacas, ocorrida em 16 de janeiro, aos 58 anos.
Hoje, 1 ano de sua Páscoa, a saudade fica mais à flor da pele, mas o sentimento de sua Presença querida também. E decidi compartilhar isso com vocês, essa Memória que nos empurra para frente, para a revisão e aprofundamento das coisas nas quais acreditamos e esperamos, como homenagem ao Jaime Norberto (da Silva, como tantos e tantos brasileiros). E como demonstração de que existem por aí, felizmente, pessoas de diferentes idades que se incomodam com a injustiça, a miséria e outras mazelas do mundo humano, pessoas que não ficam reclamando mas se engajam, se comprometem, se solidarizam e começam a Nova Sociedade justa, fraterna partindo delas mesmas. Nada do que disse Jaime deixou de viver pessoalmente. Isso lhe assegurou autoridade e credibilidade. Sua Memória é uma das memórias fundamentais nestes tempos de euforia consumista confundida com felicidade, de extremado individualismo e alienação de indivíduos e instituições.
* ATENÇÃO: para ver o vídeo, dê pausa na música, no rodapé do Blog.



terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NICAN MOPOHUA



Em 12 de dezembro passado, comentamos sobre a Virgem de Guadalupe na postagem TLECUANTLAPCUPEUH. A história do ícone está contada num pequeno livro escrito no idioma asteca náhuatl, NICAN MOPOHUA (Aqui se narra, em ordem...), escrito por volta de 1545, 14 anos após a aparição, por um frade asteca, Antonio Valeriano. A versão em português apresentada foi feita a partir do texto em castelhano, por sua vez tradução do original asteca. É uma obra de grande beleza, da mais bela poesia e um excelente retrato da cultura, da religiosidade e da mitologia e símbolos astecas. Para conhecer esse fascinante relato, acesse: http://www.4shared.com/file/196071773/669af0cf/NICAN_MOPOHUA.html

sábado, 2 de janeiro de 2010

PARA TODOS











Quando um ano termina a regra geral são os votos (desejos) de prosperidade, felicidade,
realização de sonhos, paz... Geralmente em caráter pessoal. Isso é legítimo, mas não estamos sozinhos no Planeta e - ao contrário do que a propaganda capitalista nos convence -, nossa prosperidade, nossa felicidade, nossos sonhos e nossa paz dependem também dos outros e daqueles que elegemos para legislar e governar. E do poder judiciário, que não elegemos. E hoje, a poluição que assegura o progresso da China - do outro lado do mundo - provoca enchente na minha rua, deste lado do mundo! Daí que, se queremos seriamente realizar esses desejos (na verdade, necessidades), é hora de pensar e agir coletivamente. Começa pela participação na Associação de Moradores, no Sindicato, no Diretório Estudantil, num grupo específico (mulheres, negros, gays, etc...). Prossegue pela participação nas questões do país e em relação ao resto do Planeta.
No Brasil entramos em um ano privilegiado para assegurar a prosperidade, a felicidade, os sonhos e a paz nos 4 anos seguintes: em 2010 escolheremos Presidente da República, Governos estaduais, Deputados estaduais e federais, Senadores. As elites econômicas e, por participação e extensão, as da mídia, já têm seus candidatos, as campanhas que vão patrocinar com muito dinheiro. Elas já sabem quem pode assegurar-lhes mais prosperidade, felicidade, sonhos concretizados e paz (entenda-se "paz" como segurança pública e "publica" como "exclusivamente delas"). E nós?...
Nas próximas postagens desenvolveremos mais as questões citadas e embutidas aqui, sobretudo as mais diretamente vinculadas às eleições (afinal, não quero cair na miséria, ser infeliz, afundar na frustração e/ou ser vítima da violência generalizada nos próximos 4 anos só porque você votou mal ou anulou seu voto!)

E, já que estamos falando em participação, se você ainda acha que os telejornais são confiáveis e acredita na "simpatia" dos apresentadores, veja no vídeo abaixo o que eles pensam do nosso povo - de mim, de você (e os da Globo, do SBT, da Record não são diferentes). Participe e defenda sua dignidade enviando um email para a Band exigindo a demissão do ancora como prova de não conivência.
(ATENÇÃO: Para assistir ao vídeo, desligue a Música, no rodapé do Blog)



Joelmir Beting e Boris Casóy não perceberam que o microfone ainda estava ligado ao fim do telejornal e passaram a agir como realmente são. Depois vem o tradicional e hipócrita "pedido de desculpas"!... Se a empresa Band não demiti-lo estará demonstrando publicamente sua conivência com o pensamento manifestado.