quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DANÇANDO A PAZ E A FRATERNIDADE...

O MUNDO PODERIA DE FATO TER SIDO
ASSIM EM 2009,
MAS PODEMOS AGIR PARA QUE COMECE A SER ASSIM EM 2010:

http://www.youtube.com/watch?v=M6-iC_aYcug

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

NATAL: UM DEUS SOLIDÁRIO







No relato sobre o nascimento de Jesus, o evangelista Lucas coloca na boca do anjo o anúncio: "Não tenham medo! Eu lhes anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu para vocês hoje um libertador". Esse anúncio é feito a pastores que guardavam um rebanho na região. Na sociedade judaica daquele tempo, pastores faziam parte do grupo dos excluídos, bem na base da pirâmidade social, junto com os leprosos e as prostitutas.
Os pastores vão visitar o menino e encontram uma família de artesãos pobre com um recém-nascido precariamente alojado numa manjedoura de animais, por falta de algo melhor. Com o passar dos séculos, nas sociedades cristãs, esse relato transformou-se numa história romântica, sentimental. A realidade de pobreza, de exclusão foi esvaziada, sobretudo na cristandade capitalista.

Os relatos evangélicos não são necessariamente históricos nos seus pormenores mas refletem, antes, uma leitura, uma interpretação de fé sobre o sentido, a pessoa e a vida de Jesus de Nazaré, filho de uma dona-de-casa e de um carpinteiro, e, como o pai, carpinteiro também, portanto, pessoas pobres, mas não miseráveis.

O Natal tornou-se uma grande farra de consumo: tenta-se vender de tudo e as pessoas entram na febre de tentar comprar tudo. Bem na contramão do personagem que celebram e de sua história. Mas, a despeito disso, o Natal tem uma grande magia, uma grande alegria embutida e não foi possível desvencilhar-se dos valores de solidariedade e fraternidade que ele traz (somente o valor da justiça, fortemente presente, tem sido ocultado).

Contemplando o Natal sob a ótica cristã, ou seja, da fé, umas das chaves principais para captar o seu sentido está na Solidariedade. Natal é a inserção concreta na história de um Deus que veio caminhar com seu povo, como companheiro, solidário à humanidade nos seus pobres, excluídos, marginalizados. E isso nos alerta, conforme expressa o monge beneditino Marcelo Barros, que "nenhum problema do mundo, da humanidade, pode nos deixar indiferentes", pois Deus não ficou indiferente às injustiças, às violências, à opressão sobre os pobres, às diversas formas de marginalização. Sem trazer soluções prontas, simplesmente fez-se pessoa humana e "armou sua tenda entre nós" (Jo 1,14). Veio manifestar o divino presente no humano. A trajetória de vida de Jesus de Nazaré nos mostra que quanto mais humanos nos tornamos, mais divinizados nos tornamos também. O humano é algo que ainda estamos por nos tornar.

A pobreza do nascimento do menino, o anúncio feito privilegiadamente aos mais pobres (pastores), vem nos dizer que a alegria e a felicidade não estão à venda nos shopings, nos anúncios comerciais, na comilança. E que solidariedade e fraternidade não é assistencialismo, distribuição de cestas básicas, esmolas, mas caminhar junto, assumir a causa dos excluídos e lutar para construir relações de justiça na sociedade. A Justiça é base e condição de uma sociedade solidária e fraterna. Um Deus que se encarna no meio dos pobres nos revela, sobretudo, que a Salvação (Libertação), vem de baixo, da base, dos pequenos. Não funcionam movimentos vindos de cima, das elites.

Os segundos visitantes do menino são sábios (magos) estrangeiros que, na linguagem poética e simbólica de Lucas, seguiam uma estrela. O sentido da inserção dessas personagens pelo evangelista é que Deus se faz solidário com toda a humanidade, identifica-se com todos os povos (os estrangeiros também eram discriminados na sociedade judaica daquele tempo) e a todos convida para a construção histórica do seu Projeto de fazer nascer a humanidade nova, justa, solidária, fraterna, integrada com a natureza.

Para cristãos e não cristãos, crentes e não crentes, o Natal de Jesus convida à solidariedade com toda a humanidade e todo o cosmos, a partir dos pequenos, dos excluídos. E a nos tornarmos mais e verdadeiramente humanos. E, mais humanos, sabermos que a alegria e a felicidade não se encontram no consumismo, no individualismo, na indiferença.

(ATENÇÃO: para assistir ao vídeo desligue a Música no rodapé do Blog)

* Música: "El Nacimiento" (Ariel Ramírez-Felix Luna) Mercedes Soza - CD "MISA CRIOLLA / mercedes sosa":

Noche anunciada, noche de amor,

Dios ha nacido, pétalo y flor,

todo es silencio y serenidad,

paz a los hombres, es Navidad

En el pesebre mi redentor

es mensajero de paz y amor

cuando sonrie se hace la luz

y en sus bracitos crece una cruz.

Angeles canten sobre el portal

Dios ha nacido, es Navidad.

Esta és la noche que prometió

Dios a los hombres y ya llegó

es Nochebuena, no hay que dormir,

Dios ha nacido, Dios esta aqui.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A MÍDIA MANIQUEÍSTA E A IMAGEM DO MST




A AGÊNCIA ESTADO (do Grupo do jornal O Estado de São Paulo, da família Mesquita) divulgou ontem pesquisa feita pelo Ibope sob encomenda da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sobre "a imagem do MST". Na verdade trata-se de uma pesquisa de verificação de resultados da permanente campanha de difamação e distorção do MST feita pelas 6 ou 7 famílias que controlam a grande mídia no país, a serviço do agronegócio.
Segundo a pesquisa, que entrevistou 2000 pessoas, 92% dos entrevistados consideram as ocupações ilegais; 64% não tem simpatia pela causa do Movimento; 90% considera que o MST deve lutar pela reforma agrária "sem violência ou 'invasão' de terras"; 85% acha o direito à propriedade privada essencial ao país; 77% entende que quem possui uma propriedade tem o direito de escolher se quer ou não produzir nela. Para 58% dos consultados "o movimento é legítimo porque são trabalhadores querendo terra para trabalhar e morar, mas que não têm condições de pagar por ela".
A pesquisa diz ainda "que o poder público deve utilizar a polícia para cumprir ordens judiciais de retirada dos invasores, mas 69% condena a ação armada dos proprietários de fazendas e 61% entende que o judiciário é o melhor caminho "para resolver a questão das ocupações ilegais". Já 57% dos ouvidos está de acordo com os objetivos do movimento "mas acham que ele está se desviando do seu foco". Os objetivos citados pelos pesquisadores foram três: luta pela terra para produção agrícola, luta pela distribuição de terra aos que não possuem moradia e luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Quanto ao financiamento do MST, 56% dos entrevistados "acredita que o movimento recebe recursos públicos federais". "Um grupo de 82% apoia a CPI para investigar o movimento".
Segundo um resumo da CNA, "69% dos entrevistados ligam o movimento a invasões, 53% a atos de violência, 38% à luta por direito, 32% à reforma agrária e 26% à desobediência. E 54% atribuem os conflitos no campo ao MST".
Os grandes empresários "donos" de meios de comunicação (mídia impressa, televisiva, etc...) insistem em mostrar permanente e exclusivamente uma imagem negativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Nos noticiários o Movimento aparece sempre no bloco do crime ("organizado" ou não): tráfico de drogas, assaltos e por aí vai. Há muito tempo está em vigor uma verdadeira campanha de criminalização dos movimentos sociais, na linha de que, desse lado está o mal e do lado da elite econômica e dos cidadãos obedientes e "bem-comportados" está o bem.
Em matéria de imparcialidade o Ibope já mostrou não ser confiável (sabe muito bem como induzir respostas), mas considerando os dados divulgados, concluiríamos que o objetivo dos latifundiários e empresários do agronegócio estaria sendo alcançado: destruir, através da desinformação e da manipulação dos fatos noticiados, a simpatia e a solidariedade da população ao MST.
Nota-se que a "grande mídia" jamais informa que boa parte das gigantescas fazendas deste país são terras griladas, que o agronegócio derruba florestas para plantar soja (que os brasileiros não consomem) e criar gado, que famílias "proprietárias" de meios de comunicação são donas de grandes extensões de terra e estes, sim, são os verdadeiros responsáveis pela violência no campo.
Os meios de comunicação (à excessão da TV pública) jamais mostraram os projetos bem sucedidos do MST na área das cooperativas agrícolas, da agricultura sem agrotóxicos, da educação, da cultura e no resgate de valores como relações de produção mais justas e socializadas, solidariedade, direitos humanos etc...
A "grande mídia" cobra muito liberdade de imprensa, mas nessa "liberdade" não está incluido nosso direito à informação plena e imparcial; liberdade de imprensa, para ela, é informar o que quer, quando quer e como quer. A sociedade precisa reagir a essa ditadura de 6 ou 7 famílias que tentam nos fazer deixar de pensar, perder o senso crítico e jamais nos organizarmos contra os valores de um capitalismo cada vez mais individualista e excludente. Mandar um email para um órgão de imprensa cada vez que percebermos a manipulação da informação já é uma forma de reação, pequena, mas pode-se começar por aí.

* A 1ª foto superior chama-se "Nova Geração" e é do fotógrafo Daniel Zanini H.
** A 2ª foto superior chama-se "Camponesa" e é também de Daniel Zanini H.
Para ver outras fotos de Daniel Zanini H: http://www.flickr.com/photos/zanini/

+ Para conhecer o outro lado da história: www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/04/351716.shtml http://www.mst.org.br/image/tid http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=21582 http://www.youtube.com/watch?v=y6lHWbhvFes http://www.sjsc.org.br/noticias_det.asp?cod_noticia=903 http://psolsp.org.br/?p=3017

sábado, 12 de dezembro de 2009

TLECUANTLAPCUPEUH



Morena de Guadalupe,


Maria do Tepeyac,


congrega todos os povos


na estrela do teu olhar.


(D. Pedro Casaldáliga)






Nesta data os cristãos católicos de tradição romana e os das tradições ortodoxas celebram a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe dos povos da América Latina e Protetora dos Direitos Humanos.

A história começa no México, em 1531. Os espanhóis, à custa de muito sangue e terror, tinham se apoderado das terras do povo Asteca, destruído boa parte de seus templos e os mantinham praticamente escravizados. As revoltas dos Astecas eram frequentes. Apesar disso, um certo número de astecas havia se convertido à religião dos dominadores.

Um desses convertidos, chamado a partir do batismo de Juan Diego, em 9 de dezembro de 1531, dirigia-se, cedo, a Tlatelolco (Cidade do México). No caminho, ouviu cantar no alto da pequena colina do Tepeyc a melodia de diversos pássaros, na direção de onde sai o sol. Ouviu que o chamavam de lá. Subindo à colina deparou-se com uma belíssima mulher asteca, "sua roupa parecia o sol e lançava raios". "Inclinou-se diante dela, ouviu seu pensamento e sua palavra sumamente recriadora, muito enobrecedora, como algo que atrai e procura amor".

"Então ela conversou com ele e lhe revelou sua preciosa vontade. Disse-lhe: 'Sabe e guarda seguro em teu coração, filho meu o mais desamparado, que eu sou a sempre Virgem, Santa Maria, Mãe do Deus de Grande Verdade, Teótl, Daquele por quem vivemos, do Criador de Pessoas, do Dono de tudo o que está Próximo e Longe, do Senhor do Céu e da Terra. Quero muito e desejo vivamente que neste lugar construam minha casa. Nela mostrarei e darei às gentes todo o meu amor, minha compaixão, minha ajuda e minha defesa. Porque eu sou a Mãe Misericordiosa, tua e de todas as nações que vivem nessa terra, que me amem, que me falem, me busquem e em mim confiem. Ali hei de ouvir seus lamentos e prover remédio e curar todas as sua misérias, penas e dores'".

Atendendo ao pedido dela, Juan Diego procura o Bispo, D. Zumárraga, que não lhe dá crédito. Num segundo encontro com a Senhora no Tepeyac, ela pede a Juan Diego que volte ao Bispo e insista. O Bispo continua não lhe dando crédito e, para se ver livre, pede uma prova. Informada da exigência de Zumárraga, a Virgem promete ao índio que lhe dará a prova para o Bispo no dia seguinte, 12 de dezembro.

Era inverno e o Tepeyac estava coberto de neve. Mesmo assim, ao chegar ao topo da colina no dia marcado, Juan Diego a encontra coberta de roseiras floridas, rosas de Castela. A Senhora, que mais tarde vai se identificar como Tlecuantlapcupeuh ("Que vem da luz, como a águia vem do fogo"), diz-lhe para colher as rosas. Ela mesma as arruma na manta do índio e ordena-lhe que as leve ao Bispo, pois desta vez ele acreditará.

Zumárraga estava com visitas e escravos na sala quando Juan Diego chegou. Depois de muita demora, vendo que o índio não iria embora enquanto não fosse recebido, atendeu-o. Juan Diego abre diante do Bispo a manta deixando cair as flores enquanto o bispo e os presentes se ajoelham terrivelmente espantados. Ali, diante deles, na manta desenrrolada do índio começou a aparecer a imagem da Mulher da qual o índio se dizia mensageiro. Isto, e não as rosas, era a prova!

Zumárraga mandou construir a ermida no monte Tepeyac. Lá manteve exposta a manta com o ícone de Tlecuantlapcupeuh, que ele chamou de Guadalupe, pois a sonoridade do nome na lingua asteca - náhuatl - era semelhante ao nome de uma imagem negra da Virgem, venerada na Espanha.

Durante muito tempo milhares de astecas realizaram romarias diárias ao monte Tepeyac, pois entendiam que a deusa Coatlicue, a Terra-Mãe, carinhosamente chamada de Tonantzin, havia retornado ao seu templo no alto da colina - que Zumárraga mandara destruir assim que chegou ao México.

O ícone estampado na manta é de uma mulher asteca, vestida com as cores da família imperial asteca - turquesa e rosa-salmão -, com o manto estampado de estrelas e tendo o sol atrás de si. A mulher está grávida, conforme indica o laço abaixo do seio, usado pelas mulheres astecas durante a gestação. Chama a atenção a suavidade, a infinita serenidade e cordialidade da expressão.

A história da Virgem de Guadalupe está contada num texto em idioma náhuatl escrito poucos anos depois das aparições por um frade asteca, que teria ouvido o relato do próprio Juan Diego, chamado NICAN MOPOHUA ("Aqui se narra, em ordem..."). É uma obra-prima de poesia. Os textos acima entre aspas são desse relato.

O Ícone encontra-se exposto na Basílica de Guadalupe, no México, admiravelmente conservado. Sem qualquer tratamento, o tecido não apodreceu e a imagem resistiu a quase 5 séculos de exposição à chuva nas procissões, à fumaça incessante de velas dos milhares de devotos, ao ácido nítrico derramado por descuido durante uma limpeza, a uma bomba que explodiu diante do altar em frente ao ícone em 1921, durante um atentado: tudo ao redor ficou destruído - inclusive o grande crucifixo de bronze ficou inteiramente retorcido. Um estudo realizado pela NASA não encontrou marcas de pincéis na figura e constatou que o material da "tinta", não é de origem mineral ou vegetal ou de qualquer produto químico conhecido. O ícone de Guadalupe permanece um enigma.

A veneração em torno da Virgem de Guadalupe inspirou lutas de libertação do povo asteca e, no séc. XX, nas décadas de 70 e 80, alimentou a espiritualidade libertadora das Comunidades de Base na América Latina. Foi dessa forma que a devoção começou a se popularizar no Brasil.

* Para conhecer o relato completo do NICAN MOPOHUA acesse o link:
http://www.4shared.com/file/196071773/669af0cf/NICAN_MOPOHUA.html

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009






TODA PESSOA TEM DIREITO À VIDA, À LIBERDADE E À SEGURANÇA PESSOAL
(Art. III da Decl. Univ. dos Direitos Humanos)




Hoje, 10 de dezembro, é aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por isso inauguro hoje este Blog, esperando que ele seja um pequeno instrumento a serviço desses Direitos, da defesa da Vida e da Dignidade da Pessoa Humana. Um mínimo tijolinho na construção de uma Humanidade melhor a partir do nosso Aqui e Agora, sem pretensões.

O quadro não é animador: a própria ONU denuncia que mais de 1 bilhão de pessoas no planeta subvivem abaixo da linha da pobreza; guerras e conflitos do gênero envolvendo lutas por terra, pelo direito de se constituir como nação, questões religiosas, hegemonia econômica e/ou militar - entre outras causas - se espalham pelo mundo.

No Brasil ainda há famintos, um sistema de saúde pública precário, violência no campo e na cidade, políticas de segurança baseadas na matança, tortura em delegacias, presídios e abrigos para menores, violência contra a mulher e contra os gays e se fôssemos listar tudo o espaço, obviamente, seria insuficiente. Além disso, as gritantes violações dos Direitos e da Dignidade de pessoas, grupos e segmentos sociais são por demais evidentes.

Fica aqui um convite a abrirmos mais os olhos ao redor, a manter viva a nossa capacidade de indignação, a superar a indiferença, a descrença e os medos, a superar sobretudo o individualismo e a acomodação. É bom lembrar sempre: não acontece somente com os outros: qualquer um de nós pode se tornar soropositivo em relação ao HIV ou ser atingido por uma "bala perdida".

Fica também uma homenagem a todos e todas que se comprometeram e se comprometem com a defesa dos Direitos Humanos na imagem de D. Hélder Câmara, Ernesto "Che" Guevara e Mercedes Soza, queridas e eternas Presenças.
- Link para o texto da DDH: