sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

NATAL: UM DEUS SOLIDÁRIO







No relato sobre o nascimento de Jesus, o evangelista Lucas coloca na boca do anjo o anúncio: "Não tenham medo! Eu lhes anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu para vocês hoje um libertador". Esse anúncio é feito a pastores que guardavam um rebanho na região. Na sociedade judaica daquele tempo, pastores faziam parte do grupo dos excluídos, bem na base da pirâmidade social, junto com os leprosos e as prostitutas.
Os pastores vão visitar o menino e encontram uma família de artesãos pobre com um recém-nascido precariamente alojado numa manjedoura de animais, por falta de algo melhor. Com o passar dos séculos, nas sociedades cristãs, esse relato transformou-se numa história romântica, sentimental. A realidade de pobreza, de exclusão foi esvaziada, sobretudo na cristandade capitalista.

Os relatos evangélicos não são necessariamente históricos nos seus pormenores mas refletem, antes, uma leitura, uma interpretação de fé sobre o sentido, a pessoa e a vida de Jesus de Nazaré, filho de uma dona-de-casa e de um carpinteiro, e, como o pai, carpinteiro também, portanto, pessoas pobres, mas não miseráveis.

O Natal tornou-se uma grande farra de consumo: tenta-se vender de tudo e as pessoas entram na febre de tentar comprar tudo. Bem na contramão do personagem que celebram e de sua história. Mas, a despeito disso, o Natal tem uma grande magia, uma grande alegria embutida e não foi possível desvencilhar-se dos valores de solidariedade e fraternidade que ele traz (somente o valor da justiça, fortemente presente, tem sido ocultado).

Contemplando o Natal sob a ótica cristã, ou seja, da fé, umas das chaves principais para captar o seu sentido está na Solidariedade. Natal é a inserção concreta na história de um Deus que veio caminhar com seu povo, como companheiro, solidário à humanidade nos seus pobres, excluídos, marginalizados. E isso nos alerta, conforme expressa o monge beneditino Marcelo Barros, que "nenhum problema do mundo, da humanidade, pode nos deixar indiferentes", pois Deus não ficou indiferente às injustiças, às violências, à opressão sobre os pobres, às diversas formas de marginalização. Sem trazer soluções prontas, simplesmente fez-se pessoa humana e "armou sua tenda entre nós" (Jo 1,14). Veio manifestar o divino presente no humano. A trajetória de vida de Jesus de Nazaré nos mostra que quanto mais humanos nos tornamos, mais divinizados nos tornamos também. O humano é algo que ainda estamos por nos tornar.

A pobreza do nascimento do menino, o anúncio feito privilegiadamente aos mais pobres (pastores), vem nos dizer que a alegria e a felicidade não estão à venda nos shopings, nos anúncios comerciais, na comilança. E que solidariedade e fraternidade não é assistencialismo, distribuição de cestas básicas, esmolas, mas caminhar junto, assumir a causa dos excluídos e lutar para construir relações de justiça na sociedade. A Justiça é base e condição de uma sociedade solidária e fraterna. Um Deus que se encarna no meio dos pobres nos revela, sobretudo, que a Salvação (Libertação), vem de baixo, da base, dos pequenos. Não funcionam movimentos vindos de cima, das elites.

Os segundos visitantes do menino são sábios (magos) estrangeiros que, na linguagem poética e simbólica de Lucas, seguiam uma estrela. O sentido da inserção dessas personagens pelo evangelista é que Deus se faz solidário com toda a humanidade, identifica-se com todos os povos (os estrangeiros também eram discriminados na sociedade judaica daquele tempo) e a todos convida para a construção histórica do seu Projeto de fazer nascer a humanidade nova, justa, solidária, fraterna, integrada com a natureza.

Para cristãos e não cristãos, crentes e não crentes, o Natal de Jesus convida à solidariedade com toda a humanidade e todo o cosmos, a partir dos pequenos, dos excluídos. E a nos tornarmos mais e verdadeiramente humanos. E, mais humanos, sabermos que a alegria e a felicidade não se encontram no consumismo, no individualismo, na indiferença.

(ATENÇÃO: para assistir ao vídeo desligue a Música no rodapé do Blog)

* Música: "El Nacimiento" (Ariel Ramírez-Felix Luna) Mercedes Soza - CD "MISA CRIOLLA / mercedes sosa":

Noche anunciada, noche de amor,

Dios ha nacido, pétalo y flor,

todo es silencio y serenidad,

paz a los hombres, es Navidad

En el pesebre mi redentor

es mensajero de paz y amor

cuando sonrie se hace la luz

y en sus bracitos crece una cruz.

Angeles canten sobre el portal

Dios ha nacido, es Navidad.

Esta és la noche que prometió

Dios a los hombres y ya llegó

es Nochebuena, no hay que dormir,

Dios ha nacido, Dios esta aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário